terça-feira, 18 de setembro de 2007

É hora de ouvir Johnny Cash

Existem certos momentos da vida em que você diz: "_é hora de ouvir Johnny Cash". Quando tudo parece fodido e você precisa de um country melancólico para te confortar.

No som está tocando Ring of Fire[Johnny Cash]. Depois de 5 meses mágicos, de intensa felicidade, volto a me a sentir o mais solitário dos homens, como um velho escritor do oeste americano. Minha namorada prometera me visitar hoje, logo após o almoço, são 17:49hr e ela não veio. Tomei a providência de ligar para ela e dizer que não precisa vir, que ela deve descansar e me prontifiquei dizendo que está tudo bem comigo. Quando desligo o celular percebo que não está. Me vejo ainda penteado, de frente ao espelho, pronto para tomar banho(que acaba de ser adiado). Com o quarto todo arrumado, lençóis limpos, criado polido. A mesa da sala, onde iria estudar, está livre e reservada para ela. É onde escrevo agora estas mal redigidas e dramáticas palavras.

Minutos antes de começar escrever, peguei o violão que descansava sobre a cama. Sento na minha cadeira preferida e faço uma 'sad song', não me preocupando nem um pouco em gravá-la ou mesmo memorizar para posteridade. Só queria extravasar a tristeza, de uma forma que não fosse tomando a garrafa/lata de conhaque que guardo a sete chaves na gaveta de meias, intacta por volta de 150 dias. A música tinha algo com "Where are my friends, I'm looking for, all my friends, no one is here. I'm so alone, the tears are so hard and drop to the floor", tinha C(dó), G(sol), Em(mí menor) e D(ré). Não lembro bem dos versos e suas disposições...mas eram esses.

Falta pouco mais de um mês para o show do Arctic Monkeys e eu nem sei como conseguir a grana, mas sei que vou!

Meu único amigo na cidade(de Manhuaçú), o W...(que não é de Manhuaçú) foi embora ontem, para ser operador na mais nova plataforma da Petrobrás, a P-52, ou qualquer letra P seguida de um número com dois dígitos. Volto a não ter com quem ser eu mesmo, já que nessa cidade, empestiada por fanáticos evangélicos, você deve medir cada palavra, não sair tecendo frases de cunho político ou fazer piadas sarcásticas, nem mesmo fazer uma alusão cultural. Conversar sobre cultura aqui é uma heresia, você só faria papel de bobo falando sozinho, sem ninguém para responder. Ainda achariam que você é louco, viado ou maconheiro para dar importância à essas coisas como música, literatura, filosofia, ciência e filmes cults (acho que se pronunciar esta palavra para um nativo, me olharia desconfiado, com a certeza que eu o dirigi um palavrão).

Aqui você tem que se ligar em café, roça, culto de igreja, passeata para Jesus, ser um policial militar do 11º batalhão, advogado, ou fazer faculdade (particular, é claro, no melhor estilo 'pagou, passou') de administração, para depois virar funcionário, bater nota-fiscal, como um empregado qualquer, ou puxar o saco do patrão até ele ficar com nojo da sua cara de coitado e te promover para outro setor. Sim, porque as pessoas aqui não fazem administração para abrir o próprio negócio, mas sim para "mandar bem no serviço", só para ter um diploma de 3º grau (ou para não ser preso, talvez). Os que têm o lado negro da força em seu âmago fazem Direito, para serem advogados "porta de cadeia" e ganhar algum dinheiro livrando pobres criminosos das salas frias e sujas de uma penitenciaria (coitadinhos!).

Advogados são vistos como heróis e detentores da mais alta moral, como os policiais que espancam suas esposas em casa. Na rua são íntegros, exemplo de caráter. Os pastores das igrejas então, nem se fala. Estão em um patamar acima, são semi-deuses, verdadeiros Faraós do Antigo Egito, donos da verdade e da vontade de suas ovelhas seguidoras. Reprovam um pai de família dar um passeio de férias na praia mas, no fim de semana, com uma pequena fração dos muitos dízimos de seus fieis, pega a patroa (que poderia ser classificada como uma primeira dama) e viaja rumo ao litoral capixaba. Toma água de coco e come camarão na brisa gostosa a beira-mar.

Realmente é uma tortura viver aqui, é como matar um leão por dia. Eu tinha perdido essa consciência, por estar imerso na mais sublime alegria e contentamento desses 5 meses. A única coisa boa (e a mais preciosa que poderia haver nestas montanhas,) é minha querida Jô. Parece que toda a graça e "vibrações legais" que poderiam ter aqui, se escondem no seu olhar e no seu sorriso (inestimável).

...Daí então dá pra entender o quanto sofro por sua ausência, mesmo que de um dia sequer. Não dá?

Um comentário:

Vitor Graize disse...

yeah. agora sim o blog engrena, endereço fácil e textos bacanas. além de boas histórias. até!